UM CENTENÁRIO ESQUECIDO [Escrito por Expedito Nascimento, sacerdote jesuíta, em 2005]
"Se vivo fosse, teria comemorado seu centenário de nascimento, no dia 8 de dezembro (* sic), um grande de Pernambuco. Trata-se de monsenhor Alfredo de Arruda Câmara. Tendo nascido em Afogados da Ingazeira, PE, em 1905, este sertanejo inteligente soube sintetizar em sua rica personalidade – como escreve o historiador Ferdinand Azevedo S.J. em seu livro As correntes do pensamento católico cívico-social em Pernambuco – duas vocações: a do padre e a do político. Isso, contudo, sem dualismos e numa coerência impressionante. Depois de ter ingressado no Seminário de Olinda, foi enviado a Roma, onde ordenou-se em 1928, após laurear-se em filosofia e doutorar-se em Teologia.
Tendo regressado a Pesqueira, aí permaneceu de 1928 a 1934, exercendo as funções de pároco da catedral, professor no seminário menor e diretor do colégio diocesano. Em 1934, dom Adalberto Sobral – ao que parece coagido pelas classes dominantes da cidade industrial que não simpatizavam com as posições de padre Alfredo – tirou-lhe a paróquia, obrigando-o a transferir-se para o Recife. Dom Miguel de Lima Valverde aqui o recebeu e permitiu que continuasse sua atividade política. Nunca deixou, entretanto, de voltar a Pesqueira, pois tinha aí a sua principal base eleitoral. Lembro-me, como jovem seminarista, das vezes que ele visitava o Seminário São José. Ficava encantado com o seu porte hierático, passos largos, voz grave, rosto severo.
Antes do exílio na capital, iniciara suas atividades de capelão militar no Tiro de Guerra local. Como tal acompanhou tropas, por três vezes, em expedições revolucionárias. A primeira foi a serviço da Aliança Liberal, na revolução de outubro de 1930. Designado pelo general Juarez Távora, acompanhou a Coluna de Juracy Magalhães, quando foi capturado e preso. Em 1931, seguiu o Tiro de Guerra de Pesqueira para o Cerco do Recife, quando foi baleado e deixado semimorto pelos comunistas. Em 1932, na Revolução Constitucionalista contra Getúlio Vargas, ei-lo em São Paulo, com o Batalhão Militar de Pernambuco. Suas incríveis aventuras como capelão dessas batalhas e sua heroica assistência aos feridos e prisioneiros encontram-se descritas em Traços de minha vida e História de minha prisão.
Sua vocação política teria despertado nessas experiências? Em 1933, foi eleito deputado federal à Constituinte pelo PSD, defendendo com êxito os postulados da Liga Eleitoral Católica: o nome de Deus na Carta Magna, o ensino religioso na escola pública, a assistência religiosa às Forças Armadas, o reconhecimento civil do casamento religioso, etc.
Em 1937, com o Estado Novo, sua carreira política sofreu forte abalo. Apesar de menosprezado pelo governo de Agamenon Magalhães, foi nomeado diretor da Caixa Econômica Federal de Pernambuco. Retornou ao ensino no Seminário de Olinda e assume a Capelania do quartel da 7ª Região Militar. Em 1945, com o Movimento de Redemocratização, padre Alfredo é reeleito deputado federal, retomando sua extraordinária atividade parlamentar por cinco legislaturas consecutivas. Sua principal bandeira no parlamento foi a defesa da família católica contra a lei do divórcio. Sua palavra inteligente e suas intervenções na Câmara dos Deputados estão imortalizadas em sua obra A batalha do divórcio. O maior adversário de padre Alfredo nessa empresa, o deputado Nelson Carneiro, só venceu essa batalha depois de sua morte. De 1945 a 1954, presidiu o PDC local. O Partido Democrata Cristão era um movimento inspirado no pensamento católico europeu de De Gasperi e Maritain e, aqui, em Alceu de Amoroso Lima. Seu objetivo, em síntese, era o da 3ª via política, preconizada por Pio XI, que se afastasse tanto do comunismo como do capitalismo, promovendo a reforma social na justiça e na liberdade.
Em reconhecimento de seu trabalho, recebeu, em 1948, o título pontifício de Monsenhor Prelado de Sua Santidade. Em seu livro Preservação da família e das tradições, resume seu ideal de vida: “nem esquerda, nem direita, no centro, para a frente e para o alto, eis o nosso lema”. Arruda Câmara representa uma época e uma mentalidade em termos de política e de igreja, porém, não deixa de ser admirável a coerência e a fidelidade com que viveu os dois papéis de padre e de político na defesa dos valores que julgou essenciais.
Faleceu em 1970, com 64 anos de idade."
Nota (*): Alfredo de Arruda Câmara nasceu no dia 6 de dezembro de 1905, conforme registro de nascimento Neste 6 de dezembro, teria completado 116 anos.
Oi Zezé Moura, finalmente temos nosso Mural ativo. Recebi tua mensagem e já enviei o livro "Afogados da Ingazeira - Páginas da sua história" para o teu endereço em Rosemead, Califórnia - EUA.
Quando leres, certamente vais relatar tuas impressões sobre o conteúdo do nosso livro.
Faleceu nesta terça-feira 23, no Hospital Regional Emília Câmara, o sr. Gilvan de Sá Maranhão (Bante), aos 92 anos de idade (12.10.1929 - 23.11.2021), completados recentemente.
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Em 2010, 2 de abril, há 11 anos, passando na rua 7 de setembro, bairro de São Francisco, vimos Bante sentado em frente a sua casa; paramos para cumprimentá-lo e lhe propusemos esse bate-papo...
Sebastião Irineu Liberal (foto) nasceu em 6 de dezembro de 1929, na cidade de Afogados da Ingazeira (PE). Com pouco mais de 21 anos, migrou para o Sul do País, engrossando a multidão de retirantes que tinha a viagem de pau de arara como única opção às agruras da vida no esturricado solo do sertão nordestino. Chegou a Moreira Sales no dia 12 de novembro de 1951, iniciando aqui uma trajetória dinâmica, diversificada, participativa, engajada e indiscutivelmente pioneira. Ele trabalhou inicialmente como peão no desbravamento da floresta, como empregado de Pedro Barros, empreiteiro encarregado pela Comissária Exportadora e Importadora União – nesse tempo batizada pela população simplesmente de “Firma” – para, sob a supervisão do engenheiro Srs. Thelen e João Ducini, iniciar a abertura e a colonização do território. Na sequência, integrou a equipe do Armazém Goioerê Ltda., juntamente com Adelício Alves da Silva e o gerente Nyldes de Arruda. O estabelecimento se localizava onde hoje é a Fazenda Santo Antônio, e era mantido pela Firma com o objetivo de abastecer os primeiros moradores que adquiriam lotes e iniciavam os trabalhos de derrubada da mata e formação de lavouras.
“No armazém tinha de tudo, menos bebida alcoólica”, ele mesmo dizia. As mercadorias eram transportadas em caminhão de São Paulo até Campo Mourão. Para concluir o trajeto até Moreira Sales, eram transferidas para dois caminhões menores, cedidos pelo Exército e, curiosamente, com o volante no lado direito, conforme recorda Adelício. Seu último trabalho com carteira assinada foi na serraria do município, localizada onde hoje está a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). No beneficiamento da grande quantidade de madeira existente à época, iniciou como auxiliar geral, passando para operador de serra fita até chegar ao cargo de calculista de cubagem das toras.
Após seis anos na serraria iniciou-se como empresário, comprou de Alberônio Correia de Souza um bar que se localizava em uma construção de madeira na esquina da avenida principal com a rua Otto Macedo, onde hoje é o Supermercado Matos. Neste período, mais precisamente em 1961, casou-se, formando um autêntico casal de pioneiros com Ivone Gonçales, natural de Potirendaba (SP), que, juntamente com os pais e irmãs, chegara a Moreira Sales em 1957. Começando a estruturar o município, a Firma instalou um pequeno hospital e construiu o primeiro prédio com laje, este para abrigar um hotel.
Em 1968, ele adquiriu o hotel, que administrou até meados da década de 1970, quando passou ao comando do irmão Antônio Irineu Liberal. O empreendimento permanece em atividade, agora sob a administração da senhora Ivone e filhos. Além de comerciante, ele também se dedicou a atividades agrícolas e à pecuária.
Sempre atuante na comunidade, foi vereador por três mandatos – entre 1970 e 1972 (prefeito Eurydes Romano), 1977 e 1981 (gestão Euclides Franzo), e, por fim, 1982 a 1988 (Aldenízio dos Santos Maia) –, exercendo também a presidência da câmara municipal.
Seu espírito de servir o levou a trabalhar na estruturação do Rotary Clube de Moreira Sales, no qual exerceu a presidência. Foi também presidente da Associação de Pais e Professores (APP) por duas gestões consecutivas.
A trajetória de trabalho e dedicação de Sebastião Irineu Liberal configurou uma prova de amor e gratidão a Moreira Sales, comunidade que generosamente acolheu esse peão curioso e inquieto, um retirante nordestino com muita garra e certeza de realização. Digno, portanto, de ser chamado de PIONEIRO NATO desta cidade.
Moreira Sales, 06 de dezembro de 2016. Ivone Gonçales Liberal (viúva) / Edmilson Gonçales Liberal (filho) / Claudemir Gonçalves Liberal (filho) / Edilson Gonçales Liberal (filho)
Moro em Curitiba e estive recentemente em Afogados da Ingazeira, terra do meu pai Sebastião Irineu Liberal (1929-2004), que migrou para o Paraná em 1951, com 21 anos de idade. Pioneiro da cidade Moreira Sales, teve uma vida correta e produtiva. Meu irmão e eu estamos elaborando um projeto com o objetivo de escrever as memórias do nosso pai. Fiquei sabendo, na biblioteca da Prefeitura, do lançamento do seu novo livro "Afogados da Ingazeira - Páginas da sua história". Como faço para adquirir um exemplar? Afinal, tudo começa em Afogados.
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Já contatei Claudemir que adquiriu o nosso livro. (Fernando Pires, 23.11.2021)
Heloísa Freitas convida parentes e amigos para a Missa de 7º dia de MARIA GORETTI, a ser realizada na igreja de Nossa Senhora de Fátima - Rua Cleto Campelo, 303 - Bairro Novo, Olinda, neste domingo 21 de novembro, às 17h.
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Ontem (21/11) estivemos em Olinda para participar da missa de 7º dia do passamento da amiga Goretti Freitas. Lá, encontramos os irmãos Heloísa, Luiz e inúmeros familiares.
Goretti, minha afilhada e ainda minha parenta. Eu gostava muito dela; às vezes a gente conversava pelo Face Book, e eu curtia a sua alegria com os filhos e os netos. Lamentei profundamente o seu falecimento, pois era uma pessoa muito querida. Eu me lembro de Goretti pequenininha, criança... Estudei com Margarida, sua irmã. Heloísa e Luiz, senti profundamente o falecimento de Goretti; muita paz pra vcs, queridos.
Paula Pires
Olinda, PE Brasil - 16-novembro-2021 / 9:38:30
Acabo de receber a notícia, através de Heloísa Freitas, de que sua irmã, nossa amiga Maria Goretti de Freitas Chiu, faleceu, há pouco, aqui no Recife no hospital HapVida, Espinheiro. Filha de Iracy e Manoel Pires de Freitas (em memória), deixa 4 filhos e dois netinhos. Aos familiares, nossa sincera solidariedade! _____________________________________
O velório de Goretti será na próxima quinta-feira, dia 18/11, a partir das 6h, no cemitério Morada da Paz em Paulista. O sepultamento ocorrerá às 11h, na sala de velório 2. Estão aguardando um dos filhos que reside na Alemanha;
Retorno após uma longa pausa. Fernando Pires, caro amigo, depois de um longo período sem computador, aqui venho novamente ao vosso encontro nesta página que tanto significa para os afogadenses saudosos e cheios de desejos de rever novamente o nosso Sertão por meio do Mural. Sinto-me como alguém à procura do ser amado que foge e que finalmente se reencontra graças à ajuda inestimável do meu primogênito que nestes últimos dias tem se dedicado a me introduzir ao novo computador. Já visitei este Mural por algumas horas quando me lembrei que uma nota de gratidão se faz necessário, pois tudo está à tua disposição, e eu sou muito grato. Desejo que este seja um novo período para reatar o contato tão precioso com Afogados da Ingazeira. Cordial abraço.